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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

feat Wrestling #1 - O Massacre de Munique



Saudações. O quadro Feat Wrestling tem o propósito de trazer histórias na qual o wrestling em si não é o protagonista, mas de alguma forma fez parte da linha de eventos. E hoje, ano 2016, tendo às olimpíadas do Rio ocorrido, nada "melhor" do que relembrar do Massacre de Munique.


Veja a coluna na continuação...


Pois bem, ajeite-se em sua cadeira, pegue aquela xícara de café, feche as outras abas. Se preferirem podem dar play no vídeo abaixo para ajudar com a ambientação: 

E sem mais delongas, vamos ao massacre. Ah, e eu quase ia me esquecendo; há imagens que podem ser consideradas 'fortes' por alguns. Agora sim, ao massacre.

É manhã do dia 5 de setembro de 1972, às 8:45. O Ministério de Relações Exteriores de Israel recebeu uma chamada urgente da Embaixada Israelense na cidade alemã de Bonn: os rumores, relatos conflitantes e incerteza geral tinham se transformado em uma realidade terrível – aparentemente houve um ataque terrorista contra a delegação israelense que estava em Munique para os Jogos Olímpicos.

Munique, Vila Olímpica – Às 4h30 da manhã. Enquanto os atletas israelenses dormiam, oito terroristas palestinos da Organização Setembro Negro, uma facção da Organização para a Libertação da Palestina, escalam cercas de quase dois metros com dificuldade nenhuma, pois por alguma razão a segurança da Vila Olímpica era extremamente precária a ponto de os terroristas não serem nem mesmo notados. Já dentro da Vila Olímpica, os terroristas conseguem roubar chaves e entram em dois apartamentos israelenses. Os primeiros apartamentos a serem invadidos abrigavam treinadores de wrestling e weightlifting. Yossef Gutfreund, um referee de wrestling, acorda com o barulho da porta, pensando que poderia ser o wrestling coach Moshe Weinberg, que detinha a outra chave da mesma. Ao observar a porta começar a abrir, consegue ver que o que antes era suspeitado de ser o coach Weinberg, era na verdade um sujeito mascarado e armado. Numa demonstração de força e puro instinto, Gutfreund arremessa um peso de aproximadamente 135kg contra a porta e consegue trava-la; a partir daí o terror é instaurado com os gritos de Gutfreund tentando avisar sobre os terroristas, o que deu tempo para o outro treinador de weightlifting, Tuvia Sokolovsky, quebrar uma janela e fugir. Enquanto pelo lado de fora os terroristas empurravam a porta para entrar no quarto, Moshe Weinberg - que já estava no quarto - decide ficar e lutar; afinal, ele foi youth champion e adult champion pela equipe de Israel por um período de aproximadamente 8 anos. Entretanto, terroristas não jogam por regras, e suplex algum é capaz de combater a bala de uma 
Tokarev TT, ainda mais quando essa se aloja em sua boca. Ferido no rosto, mas não vencido, Weinberg é feito refém pelos terroristas palestinos e obrigado a mostrar aos terroristas os quartos onde os outros atletas israelenses estão alojados. Quando os terroristas se preparam para invadir o segundo apartamento o qual continham boa parte da delegação de Israel, Weinberg consegue convencê-los de que neste apartamento não haviam atletas israelenses, mas atletas de Uruguai e de Hong Kong, e então  guia-os para o apartamento 3. O apartamento 3 era o alojamento dos wrestlers e weightlifters da equipe de Israel. Weinberg por sua vez, pensou que se levasse-os para um apartamento repleto de lutadores, esses teriam mais chances de lutar contra os terroristas. Infelizmente, os lutadores foram pegos desprevenidos e todos os 6 foram capturados pelos agressores. Sangrando, o agora desolado Weinberg tenta novamente um ataque contra os terroristas enquanto estes marchavam com os reféns de volta para o quarto dos treinadores; e no momento da briga, Weinberg consegue nocautear um dos agressores, o wrestler e também veterano da Guerra dos Seis Dias, Yossef Romano consegue ferir um dos agressores, mas este se recupera e atira fatalmente em Romano. Weinberg é metralhado pelas AKM’s em possessão dos terroristas, o mesmo acontece com Romano, mesmo após de morto. 

O corpo crivado de balas de Weinberg é despido e jogado pela janela, aterrissando nas ruas da Vila Olímpica, mostrando assim, a determinação da Organização Setembro Negro a todo o mundo. 

Em uma entrevista para o The New York Times, a viúva de Yossef Romano disse que o wrestler foi castrado e abusado sexualmente pelos terroristas, enquanto os outros atletas cativos assistiam.


Foto rara do momento em que os terroristas palestinos faziam os atletas israelenses reféns (anterior ao momento heroico que resultou na morte de Weinberg e Romano)
Ao todo, os terroristas conseguiram fazer nove reféns. Além de Gutfreund, os cativos eram Kehat ShorrAmitzur ShapiraAndre SpitzerYakov SpringerEliezer HalfinMark Slavin (que com 18 anos era o mais novo no local), David Berger e Ze'ev Friedman. Gutfreund, que era fisicamente o mais forte dos reféns, estava amarrado a uma cadeira. O corpo de Yossef Romano foi deixado no quarto dos reféns, como um aviso para quem tentasse resistir.



Quarto o qual o corpo de Yossef Romano foi supostamente castrado e sofreu necrofilia. Mesmo quarto onde os cativos foram mantidos.
Enquanto cenas lamentáveis ocorriam do lado de dentro, os terroristas palestinos já estavam em contato com a polícia alemã, fazendo suas exigências, as quais eram a libertação de 234 detentos palestinos presos em Israel e também pediram a soltura dos alemães Andreas Baader e Ulrike Meinhof, membros da Fração do Exército Vermelho, caso contrário, eles iriam executar dois reféns a cada duas horas. 


Os políticos israelenses afirmaram que não haveria negociações e não cederiam as exigências dos terroristas para evitar mais futuros ataques. Israel também pediu autorização para o governo alemão para enviar suas forças especiais para a região, mas os alemães negaram; tornando a situação controversa, pois os reféns eram judeus, o que tornava tudo mais complicado para os políticos alemães. 

Negociador do comitê olímpico a bater na porta de vidro do quarto israelense onde os atletas eram feitos refém - à esquerda vemos um terrorista do Setembro Negro

Fotos do momento em que os diplomatas 'negociam' com os terroristas.

Enquanto amanhecia e os terroristas negociavam com os emissários alemães, a força tarefa preparava uma invasão pelo teto; entretanto os alemães não se lembraram de cortar o abastecimento de energia elétrica do prédio, e como todos os apartamentos tinham TV’s e rádios, os terroristas puderam acompanhar as ações da polícia ao vivo. Rapidamente então avisaram que, se os agentes não saíssem imediatamente do teto, os reféns seriam executados.


Momento em que a força tarefa se preparava para invadir

Depois de uma negociação que se arrastou por todo dia, o governo alemão chega a um suposto acordo com os terroristas. Os reféns e os terroristas, seriam levados em dois helicópteros, da Vila Olímpica até a um aeroporto militar onde um Boeing 727 os esperava. 

Chegada de um dos helicópteros que levaram os reféns e os terroristas
A força militar alemã já preparava uma emboscada. Ao invés de tripulação, o Boeing teria agentes alemães, e quando os terroristas adentrassem a aeronave, seriam atacados. Porém, minutos antes da chegada dos terroristas, os próprios agentes alemães abandonam o avião, pois acharam que aquela seria uma missão suicida. E então quando os terroristas percebem o avião vazio, desconfiam da emboscada e gritam para seus companheiros. Começa então um tiroteio. Os terroristas conseguem atingir a torre de iluminação, destruindo a fonte de iluminação da polícia alemã, que tinham deslocado apenas 5 atiradores para enfrentar 8 terroristas. 


(Munich Massacre - 2005 - Spielberg)

A emboscada alemã foi muito mal planejada. Além de despreparados para aquele tipo de situação, os alemães não tinham equipamento pesado, como veículos blindados, disponível na região. Com o tiroteio se iniciando, os terroristas entraram em pânico. Luttif Afif, líder do grupo, se levantou do lado do primeiro helicóptero e apontou seu fuzil AK-47 para os reféns que estavam dentro dele amarrados e abriu fogo à queima roupa contra eles, cumprindo assim a promessa que haviam feito no início da invasão, que matariam a todos, se os pedidos não fossem atendidos.

Os israelenses Springer, Halfin e Friedman foram mortos na hora. Um quarto refém, Berger, morreu momentos depois devido aos ferimentos. Um terrorista, possivelmente ainda sendo Afif, lançou uma granada contra o helicóptero, explodindo-o e, incinerando os corpos dos reféns a bordo. O segundo helicóptero foi encontrado, alguns metros ao lado, cheio de reféns mortos baleados, possivelmente vítimas de Adnan Al-Gashey, um dos terroristas palestinos, que assim como Afif, voltou sua arma contra os reféns e os matou a sangue frio (Gutfreund, Shorr, Slavin, Spitzer e Shapira). Dos reféns do primeiro helicóptero destruído, apenas o corpo do atleta Ze'ev Friedman foi recuperado relativamente em boas condições. 
Luttif Afif tentou escapar da área, mas encontrou mais policiais e morreu na troca de tiros subsequente. Outro terrorista, Khalid Jamal, morreu baleado enquanto tentava fugir. Três palestinos, Jamal Al-Gashey, Mohammed Safady e Adnan Al-Gashey decidiram se entregar. Yusuf Nazza conseguiu fugir, mas foi encontrado pela polícia nas proximidades e então foi morto numa troca de tiros. 


Helicóptero que foi atingido com a granada jogada por Afif

Um dos atletas mortos perto do 2° helicóptero (metralhado)
Corpo do terrorista Ahmed Chic Thaa
Corpo de Yusef Nazza, segundo comandante da Organização Setembro Negro
Corpo de Luttif Afif após troca de tiros

Cenário onde ocorreu o desfecho do Massacre
Helicóptero atingido pela granada jogada por Afif por outro ângulo

Todas as vítimas do massacre
Atletas israelenses a serem enterrados

O saldo do massacre foi alto. Um total de cinco terroristas foram mortos (outros três foram capturados). Cerca de onze reféns (David Berger, Ze'ev Friedman, Joseph Gottfreund, Eliezer Halfin, Joseph Romano, Andrei Schpitzer, Amitsur Shapira, Kahat Shor, Mark Slavin, Yaakov Springer e Moshe Weinberg) foram mortos; um policial alemão também perdeu a vida.


Inicialmente, o Comitê Organizador das Olimpíadas havia decidido continuar os jogos, o que levou a uma série de protestos dentro e fora da Alemanha para que este fosse suspendido.


Imagem dos manifestantes israelenses pedindo a suspensão dos jogos
Apesar da resistência inicial, o Comitê Organizador das Olimpíadas decidiu suspender os jogos. Uma cerimônia foi feita no estádio olímpico de Munique, onde 80.000 espectadores e 3.000 atletas compareceram. Autoridades de vários países pelo mundo condenaram os atentados.


Monumento na Vila Olímpica em Munique que traduz-se: A equipe do Estado de Israel permaneceu nessa instalação durante a 20° Olimpíadas de Verão, de 21 de Agosto à 5 de Setembro de 1972. Em 5 de Setembro, [nome das vítimas] tiveram uma morte violenta. Honra à memória destes.  

Vale lembrar que a imagem que ilustra este post, com o terrorista encapuzado, é a mais marcante de todas a serem tiradas do Massacre - até mesmo mais que a imagem dos corpos. Muito se foi debatido sobre quem seria o terrorista que é o semblante do carrasco israelense. Foi chegado então a conclusão que este seria Khalid Jawad, também conhecido como "Salah". Salah foi descrito como um jovem amante de futebol que já vivia na Alemanha 2 anos antes do Massacre contra os Israelenses. 
Pós-Massacre


Os três terroristas que foram capturados, com idades entre 20 e 22 anos, nem chegaram a ser julgados. Pois, oito semanas depois do massacre, um avião da empresa alemã Lufthansa foi sequestrado em Beirute. Em troca dos reféns, o governo alemão (O governo israelense rechaçou, como já previsto) decidiu soltar os três prisioneiros, que foram para a Líbia. A Líbia também foi o destino dos corpos dos cinco terroristas mortos. Lá eles foram enterrados como heróis, com honras militares. 
Nos bastidores, o governo israelense tramava uma missão secreta para caçar os envolvidos. O Comitê Israelense de Defesa autorizou o Mossad a localizar e matar todos os integrantes do Setembro Negro envolvidos direta ou indiretamente no episódio.

A operação, chamada “Ira de Deus”, foi contada no filme Munique (2005), dirigido por Steven Spielberg. Durante duas décadas, dezenas de pessoas foram mortas pelos espiões do Mossad, entre elas dois dos terroristas capturados em Munique e um garçom morto por engano na Noruega.

O Massacre de Munique também levou governos europeus a criar equipes profissionais de contraterrorismo. Foi o início da guerra das nações ocidentais contra o terror.
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