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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Andy Kaufman: O Último Entertainer



Andrew G. "Andy" Kaufman foi um grande artista de performance que viveu entre 1949 e 1984. "Mas o que isso tem a ver com wrestling?", você deve estar se perguntando. Bom, para responder sua pergunta, vamos dar um rápido passeio pela vida-carreira de Andy.


Veja a coluna na continuação...
Andy Kaufman nasceu em 17 de Janeiro de 1949, sendo o mais velho de três irmãos, ele foi criado nos subúrbios de classe média alta de Great Neck em New York.
Seu pai estava no negócio de joalheiras e Andy e seus irmãos cresceram sem nenhum problema emocional, além de gozarem de uma educação de elite.

As performances de Andy começaram ainda quando ele tinha 9 anos em festas de aniversário. Em boa parte de sua juventude ele escrevia poemas e romances, tendo completado seu primeiro romance aos 16 anos, o qual é chamado de "The Hollering Mangoo" - e que nunca foi publicado.


Após terminar o colegial, Kaufman estudou Produção de TV pela Grahm Junior College e nesse tempo de formação começou a fazer performances em Cafés com o intuito de melhorar suas habilidades de atuação. Após ter se formado em 1971, Andy continuou a se apresentar em Cafés, só que agora com o stand-up - vale ressaltar que Andy não se apresentava por dinheiro, mas para ganhar experiência; sendo assim, ele não recebia nenhum tostão para se apresentar nessa época.


Geralmente quando um artista faz uma performance para uma audiência, o objetivo é fazer essa audiência gostar dele; mas quando Kaufman pisava nos palcos, todo esse objetivo era desfeito e jogado pela janela. Andy não se importava se o público gostaria dele ou não.


Sendo reconhecido por suas pegadinhas e por nunca sair do personagem enquanto na frente das cameras e/ou público, Kaufman teve um bom repertório de personagens, como foi o caso do seu personagem Tony Clifton, que era basicamente um stand-upper Las Veguense que falava alto, era abusivo com a plateia e tinha um estilo brega meio que inspirado em Elvis Presley - que Andy também fez diversas imitações no seu começo de carreiro.


Grande parte da plateia de Kaufman ia aos shows justamente por ele ter esse estilo diferente, indecifrável e único. A sensação de rir do que não se tinha certeza real do que estava se passando era um dos pontos altos do show do Andy.


Em 1975, Kaufman foi descoberto pelos produtores do Saturday Night Live e participou de vários episódios da primeira temporada do TV Show.


Em 1978, numa apresentação de stand-up, produtores de uma série de TV chamada "Taxi" - com Danny DeVito entre outros comediantes -, gostaram da apresentação de um dos personagens de Kaufman (Foreign Man) e o chamaram para fazer parte no show onde seu alter-ego, o Foreign Man, foi adaptado para o personagem Latka, o qual ele interpretou de até 1983, quando decidiu deixar a série, pois segundo amigos, Kaufman detestava fazer o show visto que achava que as sitcoms americanas era uma das formas mais ralés de se fazer humor.


Ainda nesse período de tempo de 1978 à 1983, a popularidade e visibilidade de Andy cresceu bastante com o Taxi, e assim mais ofertas de apresentações surgiram, permitindo-o fazer tours pelos EUA todo testando os limites da sua performance artística de maneiras que nunca antes fora testado. Em um show lotado em Carnegie Hall por exemplo, Andy fez uma apresentação memorável em que a todo momento sua "avó" estava sentada, dormindo numa poltrona perto do palco e ao final do show, ao pedir para a "avó" se levantar e acompanha-lo para agradecer o público junto a ele, a simpática senhora tira a peruca e sua mascara de rosto, se revelando ser ninguém menos que Robin Williams (R.I.P); os aplausos ecoaram pelo Carnegie Hall por bons minutos. Ainda quando no Saturday Night Live, ele sentou-se passivamente numa cadeira e leu para a audiência o livro "O Grande Gatsby" de F. Scott Fitzgerald e ocasionalmente parava e perguntava se a plateia desejava que ele continuasse a ler ou desse play numa fita que estava ao seu lado. Num momento, a plateia diz que sim, e para a surpresa e gargalhada de todos era apenas uma gravação de ele lendo O Grande Gatsby de onde havia parado.


Foi também nesse período de exibição e visibilidade advinda da exibição de Taxi que Kaufman começou ter wrestling matches em seus shows. Fato curioso é que, Andy só lutava contra mulheres, de todas as categorias e tamanhos e se considerava o "inter-gender champion of the world" e sendo enigmático como sempre, deixava seu público sem saber se ele estava brincando ou não.


Um período após suas apresentações lutando contra mulheres terem gerado um certo sucesso, Kaufman contatou Vince McMahon Sr., pra tentar levar alguma de suas apresentações para o território de pro-wrestling nova iorquino. McMahon Sr. recusou a ideia, pois não queria trazer o "show business" para sua promoção (are you not sports entertained?).

Após dezenas de matches contra mulheres, Kaufman recebe uma ligação do até então dono da Continental Wrestling Association em conjunto com Jerry Jarret, Jerry "The King" Lawler, que o convida para uma match. Kaufman, sem quebrar sua gimmick, respondeu que não poderia, pelo simples fato de Lawler não ser mulher e não poder participar de uma inter-gender match contra ele.
Após um tempo, Lawler consegue convencê-lo de fazer sua primeira match contra um homem.
Os segmentos e promos em si foram impagáveis, Kaufman usou e abusou de todo seu talento na criação de suas promos, como a icônica "Ensinando moradores de Memphis a como usar sabonete", insultando a cidade de Lawler.

Mesmo após meses da realização da match, Kaufman usou um colar cervical por um bom tempo dando ainda mais credibilidade à storyline (no vídeo abaixo ele ainda está a usar o colar, mesmo 5 meses após a match).


Andy Kaufman tinha um talento incrível para atuação e fingimento, mas algo que ele não conseguiu fingir foram suas tosses fortes e constantes. Em dezembro de 1983, Kaufman foi diagnosticado com um tipo raro e sem cura de câncer de pulmão (Carcinoma de Grandes Células, para ser exato) - mesmo assim Kaufman achou que viveria, ele acreditava na medicina cientifica; se tratava somente com a medicina holística. Uma a cada 150.000 pessoas desenvolviam esse tipo de câncer - atenção no pretérito imperfeito do indicativo, pois são dados do início da década de 80. Hoje em dia este tipo de tumor é responsável por 10 a 15% dos cânceres de pulmão.


Kaufman foi declarado morto pelo Cedars-Sinai Medical Center de Los Angeles em 16 de Maio de 1984 aos seus 35 anos.


Como não poderia ser diferente, teorias da conspiração rondam a morte desse exímio artista e em novembro de 2013, o irmão deste afirmou que Andy poderia ainda estar vivo. 


Pois bem, para explicar esse episódio devemos lembrar que o estilo irreverente e único de Andy nunca realmente o proveu de fama plena, ora, a mídia pouco entendia seu estilo e não eram muitos fora da mídia que faziam o mesmo. Como podemos ver nessa filmagem raríssima de Andy fora de seu personagem, ele reclamava de ter se apresentado para um público desanimado e pouco respeitoso:






A verdade é que a maioria dos contratantes de Andy o contratavam pensando que estavam a contratar o personagem Latka da sitcom Taxi, e quando Andy se apresentava o produto era diferente, e o público também, por tabela. Sendo assim, sempre caiu no ostracismo da main media.

Segundo Michael Kaufman, irmão de Andy, ao revirar alguns objetos e baús pessoais encontrou uma carta na qual Andy fazia um ensaio de como planejaria sua morte farsada. A teoria ganhou ainda mais força quando amigos de Andy vieram a mídia para contar que ele realmente tinha o desejo de forjar a própria morte, e até mesmo parecia obcecado com a ideia.

Segundo Michael, Andy ainda escreveu que reapareceria em um determinado restaurante em 1999, na véspera de Natal. Pois bem, Michael pôs-se a ir encontrar seu irmão na data e local descritos pelo mesmo, entretanto não encontrou ninguém. 

Após esse episódio, Michael afirma ter recebido outra carta do irmão, dessa vez dizendo que ele estava escondido por 15 anos vivendo com uma mulher e uma filha e que havia realmente comparecido ao restaurante, mas preferiu não fazer contato. A carta ainda continha o pedido de só ser revelada após o pai de ambos morrer (o que ocorreu em 2013).

Alguns meses depois, o irmão de Andy decidiu organizar um evento em homenagem ao mesmo e segundo relatado, recebeu uma ligação de um mulher afirmando que o comediante estava, de fato, vivo, e ainda que estava a acompanhar os preparativos para o evento em sua homenagem e o motivo de ter forjado sua morte foi simplesmente para se tornar "normal" de novo, formar uma família longe dos, ainda que fracos, holofotes, viver como observador apenas.

No dia do evento, enquanto Michael contava sobre as supostas cartas do irmão e a ligação da mulher, perguntou ao público se a mulher da ligação estava na plateia, surpreendentemente ou não, eis que uma moça levanta e caminha ao palco; quando perguntada quem era, esta disse que seria a filha de 24 anos de Andy. Ainda segundo a mulher, Andy estaria muito triste com a morte do pai e só procurou Michael por esse motivo, além do fato de nunca ter conhecido seu tio. Andy supostamente manteve em segredo que era famoso para sua "família", só tendo revelado meses antes.

Abaixo temos o vídeo da suposta filha de Kaufman. 



E então foi em 2014 que a teoria ganhou ainda mais força quando o amigo pessoal de Andy, Bob Zmuda, se juntou à ex-namorada de Andy na época, Lynne Margulies, para publicarem o livro Andy Kaufman: The Truth, Finally, no qual afirmavam que Andy havia de fato forjado sua morte e que reapareceria em breve quando sua "brincadeira" completasse 30 anos - fato que infelizmente não ocorreu; não publicamente pelo menos. 

Como insisti em trocar a palavra "comediante" por "artista de performance", era assim que Kaufman se definia. Um homem de música e dança. Um comediante sempre quer fazer-te rir, Andy sempre quis fazer-te sentir qual seja a emoção que ele quisesse e essa nem sempre era positiva. Ele não te queria feliz ou triste, rindo ou de cara fechada, entretido ou confuso, divertido ou irritado. Andy era um mestre em nunca quebrar sua gimmick; e no vídeo abaixo temos uma demonstração de quando ele e Jerry Lawler foram ao Late Night with David Letterman em 1982.


Tanto Lawler quanto Kaufman merecem reconhecimento pela maneira que mantiveram a storyline viva e o improviso ativo, especialmente nesse episódio.


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